27 de outubro de 2009

Ônibus 147

E mais uma vez a última imagem que se vê é a caixa de madeira sendo colocada num buraco de terra, e lá dentro, um rapaz. Um rapaz negro, dito marginal.
Coadjuvante da Chacina da Candelária, Protagonista do episódio Ônibus 147.
Um rapaz, um assassino.
Mas antes de mais nada um menino, um menininho atormentado por imagens de um passado sombrio, um passado manchado de sangue materno.
Um passado sem pai, um passado sem família, sem colo, sem carinho.
Todos os dias milhares de Sandros surgem nas ruas do Brasil.
Esses meninos condenados ao suplício de sua cor e sua posição social, esses meninos maltratados pela vida, invisiveis para a sociedade.
E vai dizer que não?
Quem de nós nunca fingiu não ver um garoto de rua pedindo esmola no semaforo, ou fazendo malabares, vendendo chiclete?
Quem de nós já não fechou os olhos para não ver aquelas crianças pequeninas dormindo debaixo das pontes, ao relento, sem pai, sem mãe, sem nome?
É a dura realidade no Brasil.
Não só do Brasil...
E nós continuamos fechando os olhos, até que um deles, para ser visto, num apelo de visibilidade invade um ônibus e faz pessoas reféns.
E o desfecho dessas histórias será sempre morte e sangue.
Serão sempre trágicos e dolorosos.
E então nós veremos que atrás de um marginal, de um assassino, havia um garotinho surrado pela polícia, um garotinho que lhe fora negado o pão, o colo, a moradia. Um garotinho que viu tudo de pior que pode ser visto nesse mundo!
Um garotinho que se lá atrás tivesse tido carinho, afeto, educação, e oportunidade, não teria terminado dentro de uma caixa de madeira ingrata, num buraco sujo de terra, só com uma velha mãe que o adotara depois de grande, lhe oferecendo flores, chorando sua morte...

Um comentário:

  1. Clap, clap, clap!!!! É isso mesmo, vivemos numa sociedade hipócrita, que de democrática não tem nada, no fim existe um sistema que seguimos achando que temos direito a escolha!!! Continuo espiando seu voo sempre...bjs

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