21 de janeiro de 2010

Jamille de novo

Mais uma vez Paris é cúmplice dos seus casos e descasos.
Caminha ofegante, passos rápidos e marcados pelo som do salto alto.
O ar frio que sai da boca parece fumaça de cigarro, o cigarro que ela fumara a algumas quadras antes, e talvez seja por isso também que tenha a respiração descompassada.
O nariz gelado, o lenço fino e envolver-lhe e proteger-lhe a nuca. Dois olhos alçando distante um lugar para se sentir segura.
E logo atrás, alguém a segue.
Vai mais rápido que pode, mas prefere não correr. Correr é coisa de moleca, ela já era uma mulher, como bem dizia a si mesma todos os dias quando acordava sozinha, ou acompanhada por mais um capricho que nem se lembrava o nome.
O encontro com as amigas lhe fizera bem, mas algo a incomodava profundamente.
Foi embora, e esse algo foi junto.
Um turbilhão de idéias a cada passo. Será que teria que viver assim pra sempre?
Talvez seria bom se mudar de Paris. O interior seria uma boa saída, embora fosse razoavelmente conhecida por seus quadros e suas artes, talvez até mudar de país.
Poderia ir pra Irlanda. Sempre gostou muito das histórias da Irlanda.
O passo apertava, e ela também.
E ao longe eu a vejo, andando o mais rápido que pode, fugindo.
Não está fugindo de ninguém, nem de homem, nem mulher, nem cobrador, nem nada.
É só Jamille de novo, fugindo das próprias mentiras.

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