15 de setembro de 2009

A chuva de Potira


Cai a tarde na floresta. A ultima gota de chuva caiu.
Uma imensidão verde ameaçada. Uma menina a andar pela beira do rio.
Potira ergueu o olhar observou as árvores que lhe cercaram a existência durante anos.
Agora que sabia ler, via a vida ameaçada.
E não era preciso saber ler para ver que a Amazônia estava sendo depredada avassaladoramente por feras quase que irracionais. Feras que não pensavam nas consequências de seus atos. Feras munidas de armas de fogo e ganancia no coração. Feras essas que não pensavam no futuro de seus filhos. Feras que Potira chamava de homens.
Eles cortavam, queimavam, destruiam sem a menor piedade.
E em cada árvore cortada, um pedaço do coração de Potira era arrancado.
Não compreendia como criaturas dotadas de razão e coração podiam prejudicar dessa forma a mãe que lhes dera alimento e abrigo por tanto tempo.
Os proprios companheiros da comunidade que Potira morava estavam sendo corrompidos pelos principios capitalistas, jogando fora todas as lições preciosas que ouviram do velho índio, Acauã, uma especie de xamã daquela comunidade, sobre a importancia de tratar bem a Mãe Terra.
A chuva havia parado. Mas agora quem chovia era Potira.
Chovia pelos olhos, a chuva mais dolorida, mais penosa e mais triste.
Chovia as dores da floresta, os animais sem abrigo, as comunidades sem alimento. A Mãe Terra morimbunda clamando por misericórdia!
Chovia a dor de ver a Sua Terra morrendo a cada dia.
A chuva amarga da dor de quem sozinho não pode fazer nada. A chuva amarga da ingratidão de seus companheiros.
E Tupã?
Onde estaria o Grande Tupã?
Por que ele não descia dos Céus e não castigava os homens?
Então Potira pensou e percebeu que não seria necessário que Tupã castigasse ninguém, afinal, os homens estavam plantando a semente que renderia o seu próprio castigo!
E na margem do rio, a menina cafusa, de cabelos longos e negros, feição de uma princesa do vento, continuou caminhando, enquanto seus olhos choviam...

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